quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Diabólica dialética

- Meu bem, o que eu queria hoje era falar-te o absurdo, o usar das palavras. Incomoda-me essa nossa realidade. Não tens medo que um dia consiga explicá-la com a voz e acabes com toda essa filosofia de existencialismos? Mataria Sartre, calaria Jung, deixaria Gregório soltar-se do teto leve, sem o asco e o incômodo kafkaniano que tem o peso de nos criar asas, e sujeira, e fedor? Não seria melhor, ao definir um sólido com um nome, voltar um passo atrás, esquecendo a dialética? Assim o objeto teria mil significados não ditos e a realidade não se explicaria. Poderíamos então, você e eu, continuar com o absurdo, sem culpa e sem mortes. Meu bem, e o que me diz?

- Dá seu último trago, fecha a janela e não demora. Esta bebida cheira a fruta e a cama a cabelo. Por enquanto temos Bessie na vitrola, e eu sou silêncio.

Um comentário:

Vince Vinnus disse...

"Por enquanto temos Bessie na vitrola, e eu sou silêncio."

E essas palavras assim dispostas não deixam que me ocorra nenhuma outra organização melhor.

e eu aplaudo,
e eu releio,
e fico escutando
o ser silêncio.