- Meu bem, o que eu queria hoje era falar-te o absurdo, o usar das palavras. Incomoda-me essa nossa realidade. Não tens medo que um dia consiga explicá-la com a voz e acabes com toda essa filosofia de existencialismos? Mataria Sartre, calaria Jung, deixaria Gregório soltar-se do teto leve, sem o asco e o incômodo kafkaniano que tem o peso de nos criar asas, e sujeira, e fedor? Não seria melhor, ao definir um sólido com um nome, voltar um passo atrás, esquecendo a dialética? Assim o objeto teria mil significados não ditos e a realidade não se explicaria. Poderíamos então, você e eu, continuar com o absurdo, sem culpa e sem mortes. Meu bem, e o que me diz?
- Dá seu último trago, fecha a janela e não demora. Esta bebida cheira a fruta e a cama a cabelo. Por enquanto temos Bessie na vitrola, e eu sou silêncio.