sexta-feira, 18 de abril de 2008

Siempre un poco más de lo que debería

Perguntaram-me por que eu nunca escrevo sobre o amor. Resolvi me perguntar também. Para quem sente prazer com retóricas nulas, eis aqui meu kama sutra.

Eu não escrevo por medo de abobear, porque desencanta. É aquela menina no bistrô lilás que amontoa açúcar em cima da mesa e depois se inclina sobre a criação e cospe, ouvindo o derreter da sua própria neve. O produto torna-se líquido e inútil, mistura de tentação com repulsa, doce e destruído. Não escrevo porque esta letra é grossa demais, e porque todas as outras hão de ser também. Ausento-me porque não encontro aquele diâmetro perfeito que se encaixe na extensão intangível de dois silêncios, de dois perfumes, de quem não marca encontros e não precisa nunca saber onde está.

Não escrevo porque não gosto de escrever sobre o que eu conheço bem. O realismo não tem gosto, e meu gosto precisa ser forte. Não escrevo também porque não acredito na palavra. Dizê-la é patético, eu a escondo. E esqueço. Acontece de esse tal amor irromper no meio de um vento no cabelo, ou ao assistir aquela pomba que faz o número 86 com as patinhas no concreto molhado das dezoito horas. Aí eu fico sem saber o que fazer com ele. Rio e esqueço novamente. Digo então que já amei ao extremo.