quarta-feira, 18 de março de 2009

Da maneirista

Diz-se que se escreve para registro de sons ou para eternizar histórias. Acontece que logo após invadirmos com letras o papel branco e virgem, desvirtuamos também as primeiras puras intenções. A atitude não é má e sim natural em essência, porque a verdade é que se escreve para completar o que não foi dito. Para transformar as lacunas de silêncio de nossa história engasgada. Partindo do que se sente e não se fala, escreve-se para preencher o branco.

Neste preencher com tinta a expressão é mais livre. O gesto é como despir sem pudor de palavras o branco novo do vestido da noiva pura, e sussurrar em seu ouvido aquilo que ninguém mais podia saber antes do abuso. Dessa forma a história escrita se torna mais crua, mais humana, inesquecível como todas as primeiras vezes.

Não há segredo para a liberdade e a facilidade do ato. Não há forma mais simples de eternizar uma impressão do que começa-la do branco, sem prévias marcas nem intenções. É pressionar a caneta em oportunidades infinitas para criar as cores que quiser a partir do brilho alvo do nada. Escreve-se porque é fácil.

É preciso lembrar que escrever muda primeiras intenções, mas não foge nunca daquela primeira desejada realidade. A tinta que completa o tal branco das idéias tem apenas a missão de revelar a originalidade presa no vazio da fala e na luz do papel. Escreve-se para trazer o real e a si mesmo ao claro, e assim não passar a vida em branco.

2 comentários:

Sarah disse...

nota 8.

AgaGoméz disse...

Isso aí é o que eu tô pensando que é? Bom hein...